quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Impressões e reflexões sobre o filme "A Noite Americana" de François Truffaut, 1973.




A Noite Americana
(Nuit américaine, La, 1973)

Sinopse: Um dos filmes que melhor representa as loucuras que se passam em um set de filmagem. Um ator que fica deprimido porque sua noiva sai com um dublê, uma atriz que se entregou às bebidas e não consegue lembrar de suas falas e muitas outras confusões, que o diretor deve fazer de tudo para contornar, até gravarem uma das cenas mais importantes do filme: a que o dia deve ser transformado em noite artificialmente.

» Direção: François Truffaut

» Roteiro: François Truffaut, Jean-Louis Richard,Suzanne Schiffman

» Gênero: Comédia/Drama

» Origem: França/Itália

» Duração: 115 minutos

» Tipo: Longa

Sinopse e Ficha Técnica: Cine Players


Impressões e reflexões sobre o filme “A Noite Americana” de François Truffaut, 1973.

por Alexandro Chagas Florentino

Algumas áreas de pesquisa como a psicanálise, a iconografia e a semiótica têm discutido, de certo modo, as possibilidades que o audiovisual instaura na criação de “imaginários coletivos, expressão cara a Martín-Barbero (2004), enquanto ferramenta capaz de construir valores, diversidades e conhecimentos.

Porém não é difícil encontrar teóricos e estudos que condenem a produção audiovisual ao mundo do engano, da fabulação, que a confinem apenas à dimensão estética da arte, como uma ferramenta destinada a manipular e a persuadir, um grande simulacro e um mal a ser combatido.

No entanto, a metalinguagem utilizada por Truffaut em “A Noite Americana”, contribui para que possamos pensar a realização audiovisual como um mecanismo de representação do real capaz de veicular o ponto de vista de quem o realiza. E ao evidenciar o posicionamento de quem realiza, inevitavelmente, nos leva a refletir sobre a construção de olhares, cada realizador possui um ponto de vista ao produzir uma representação do real, o que acaba por contribuir para diversificação de olhares sobre a realidade.

Portanto, quando nos deparamos com uma projeção fílmica, deparamo-nos com o ponto de vista de quem a produziu, com sua maneira de ver e representar o mundo. Deste modo, a câmera funciona como mediadora entre o público e o filme, ou seja, mediadora entre o modo de interpretar o mundo do espectador e a perspectiva, a maneira de representar o mundo de quem realiza o filme.

Essa reflexão, creio, é importante, pois ainda há quem acredite que o cinema, a produção audiovisual, de uma forma geral, seja algo revelador, portador da verdade, porém “a imagem que recebemos compõe um mundo filtrado por um mundo exterior a mim, que me organiza uma aparência das coisas, estabelecendo uma ponte, mas também se interpondo entre eu (sic) e o mundo” (XAVIER, 1988, p. 369-370).

E é o que nos revela o travelling numa Nice cenográfica, logo no início do filme onde Jean-Pierre Léaud sobe as escadas e caminha em direção a uma cena de bofetada, cena esta que é repetida até o Diretor do filme "Eu Vos Apresento Pamela", Ferrand, concluir que ficaram boas as filmagens. Ou seja, deliberadamente um processo de escolhas.

Outra situação importante, e que é evidenciada ao vermos expostas as “entranhas” de uma produção cinematográfica, é o “debate” a cerca da importância da forma, da estética, da estrutura de realização, de todo o texto cinematográfico. Pois é recorrente vermos debates, sobretudo nos meios de comunicação, que levam em consideração apenas o assunto do filme, com isso discutindo-se apenas seu enredo.

No entanto, a forma é tão importante quanto o assunto, pois é a forma, a estética, que faz esse assunto ser transmitindo da forma mais eficaz, segundo critérios de quem realiza o filme.

Referências

MARTÍN-BARBERO, Jesús e REY, Germán. Os exercícios do ver: hegemonia audiovisual e ficção televisiva. 2ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.

XAVIER, Ismail. “Cinema: Revelação e Engano”, p. 367-383. In: NOVAES, Adauto (org). O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

2 comentários:

Unknown disse...

Puxa! Fiquei impressionada com suas impressões e reflexões sobre este filme, que por sinal também vi e também fiz esse trabalho, mas minha visão foi bem mais simplista sobre o assunto...

Gustavo Alejandro disse...

Parabéns pela iniciativa, Alexandro!

Truffaut sempre me pareceu o mais atrativo dos diretores da Nouvelle Vague francesa. Ele se preocupava com o espectador, a diferencia de Godard, por exemplo, que está permanentemente teorizando.

Não por nada Truffaut admirava o cinema de Alfred Hitchcock.